sexta-feira, 13 de maio de 2016


EU
*FLORBELA ESPANCA*

Até agora eu não me conhecia,
Julgava que era eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera…
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim… E não me via!
Andava a procurar-me - pobre louca! -
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!
E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!




(em "A mensageira das violetas")

 Poetas Poemas Poesias
O Instante Antes do Beijo
Não quero o primeiro beijo:
basta-me
O instante antes do beijo.
Quero-me
corpo ante o abismo,
terra no rasgão do sismo.
O lábio ardendo
entre tremor e temor,
o escurecer da luz
no desaguar dos corpos:
o amor
não tem depois.
Quero o vulcão
que na terra não toca:
o beijo antes de ser boca.

Mia Couto, in 'Tradutor de Chuvas'







Uma árvore traz sempre a febre do solo.
A inquietação da clássica epiderme da língua.
Cava a minúscula boca dos sentidos:
Nasce onde a Vida pertence.
Renasce na substância pura da matéria.

















Foto: Alice Castelejo






Um poema de José Luís Peixoto

http://quetzal.blogs.sapo.pt/204749.html